A cinco meses das eleições, disputa em Belo Horizonte divide aliados
Na tentativa de se recompor após o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff, o PT deve lançar o ex-ministro Patrus Ananias na corrida pela Prefeitura de Belo Horizonte. Pela primeira vez desde que as articulações pelas eleições começaram, Patrus admitiu a possibilidade, ao Hoje em Dia.
“Todas a minhas decisões são feitas em conjunto com os movimentos sociais e os partidos aliados. Mas tenho um cuidado e uma atenção especial com Belo Horizonte. Tenho conversado com as pessoas”, afirmou, após ponderar que está preocupado, no momento, com “a questão nacional”.
É justamente pensando na questão nacional que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou Patrus. A interlocutores, Lula tem dito que o PT não pode envergonhar-se e correr o risco de perder poder pelo país. Por isso, a ideia é lançar candidatos em cidades consideradas chave, pelo número de eleitores e pelo peso político.
Na corrida pela sucessão ao prefeito Marcio Lacerda (PSB), o PT terá como principal adversário o PMDB, aliado na esfera estadual. Um racha entre os deputados federais Leonardo Quin-tão e Rodrigo Pacheco ainda impossibilita que o partido bata o martelo.
PSDB
Em outra frente, os aliados Marcio Lacerda (PSB) e Aécio Neves (PSDB) tentam consenso, ainda sem sucesso, em torno de uma chapa única. Mas deputados estaduais e federais do PSDB posicionaram-se a favor da candidatura própria, algo que não aconteceu nas últimas disputas, em 2008 e 2012, quando houve apoio a Lacerda.
“O PSDB tem grandes quadros e é o partido que mais cedeu nos últimos anos. Aécio foi o grande fiador nas duas eleições do Lacerda. É o momento de o Marcio retribuir isso”, avalia o deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB).
O nome do deputado estadual João Leite é colocado, mais uma vez, como aposta do partido. De acordo com pesquisas qualitativas feitas pelo PSDB, João Leite teria aproximadamente 20% de intenções de voto na largada. Mas teria pouco fôlego no desenrolar da campanha, por ser visto pejorativamente, por parcela do eleitorado, como defensor dos direitos humanos.
Leite – Deputado estadual é o nome do PSDB, que tenta acordo com o PSB
A opção de Lacerda
Nos últimos meses, o prefeito Marcio Lacerda vem construindo a candidatura do presidente da Cenibra e ex-secretário de Estado de Cultura Paulo Brant, que se filiou ao PSB. Brant coloca-se como pré-candidato, e na última semana, esteve reunido com vereadores de Belo Horizonte para se apresentar como opção da base governista.
Na ocasião, ponderou que o fato de ser pouco conhecido não é um impedimento, mas um trunfo. Também disse que não deixa a vida privada para ser vice numa eventual disputa. O perfil técnico do pré-candidato é visto, no entanto, com ressalvas por setores do PSDB.
Brant – De perfil técnico, é nome preferido pelo prefeito, mas enfrenta rejeição de aliados
Em meio ao dilema, aliados de Aécio e Lacerda apontam a possibilidade de lançar o atual vice-prefeito, Délio Malheiros (PSD). Délio já declarou que pretende candidatar-se. “Seria uma opção viável, já que Délio mostrou-se fiel a Aécio e Lacerda. E acabaria com a disputa entre os grupos do senador e do prefeito”, afirmou um interlocutor do PSDB.
Délio trocou o PV pelo PSD com vistas à sucessão. “Escolhi um partido que dialoga com os dois nomes (Aécio e Lacerda). Tenho procurado agir com muita colaboração”.
Desprestígio com Temer provoca racha no PMDB mineiro
Após o desprestígio mineiro na composição do governo federal, o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB) entrou na disputa do partido pela vaga de candidato à Prefeitura de Belo Horizonte.
O nome do deputado federal Rodrigo Pacheco estava sendo construído, nos últimos meses, com o aval do presidente Michel Temer. No entanto, Quintão, presidente do diretório municipal do partido, colocou-se na disputa, após ser preterido para a liderança do PMDB na Câmara dos Deputados.
Quintão, que foi candidato pelo partido em 2008,tem a favor a possível maioria dos delegados da sigla numa eventual convenção municipal, e é um nome conhecido dos eleitores, como indicam as pesquisas internas do PMDB.
No atual cenário, marcado pela redução na duração de campanha e nos dias disponíveis para a propaganda eleitoral no rádio e na TV, ser um rosto conhecido seria um trunfo, conforme aliados.
No entanto, de acordo com membros do partido, as mesmas pesquisas do PMDB indicam que Quintão apresenta índices de rejeição consideráveis, e as lideranças têm buscado alternativas para a construção de um consenso em torno de Pacheco. O próprio Temer deu aval à provável candidatura.
“O meu nome foi colocado e tem uma boa aceitação. Essa definição passará por várias lideranças, como o vice-governador, Antônio Andrade, e o secretário de Saúde, Sávio Souza Cruz. A definição passa pela deliberação das lideranças. Espero que seja definido nos próximo dias”, colocou Pacheco.
Já Quintão aposta na exposição da imagem dele. “Isso acabará ajudando na hora da escolha pelo partido: quem for o candidato mais conhecido pelo eleitor e quem já tiver sido mais testado pelas urnas levará vantagem. Teremos uma definição em julho”, diz.
Pacheco rebate. “Obviamente, quem é mais conhecido tem mais condições. Mas isso não significa que em 45 dias de campanha não se possa apresentar propostas e tornar-se conhecido”.
Pesaria a favor de Pacheco a possibilidade de construção de alianças tanto com a base do governador Fernando Pimentel (PT) quanto com os tucanos.
Alijados
O PMDB mineiro não conseguiu emplacar quadros na composição ministerial de Temer. Também não obteve a liderança do partido na Câmara, cargo almejado por Leonardo Quintão. Nos bastidores, a informação é a de que existe desconforto com a falta de prestígio nacional.
Alterações na legislação eleitoral desafiam partidos
Além dos adversários, as eleições deste ano trazem desafios adicionais aos partidos, com as alterações no financiamento, tempo de campanha e apresentação das candidaturas, pontos definidos pela reforma eleitoral de 2015.
A principal alteração é a proibição de doações de pessoas jurídicas (empresas), que foram consideradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. Com isso, somente o fundo partidário (cujo acesso pelos partidos é proporcional ao número de deputados federais que eles possuem) e as doações de pessoas físicas poderão sustentar as campanhas.
Além disso, os partidos poderão gastar, no primeiro turno, no máximo 70% do maior valor utilizado na campanha anterior em cada município. A lei ainda determina que em cidades com até 10 mil habitantes, a restrição é de R$ 100 mil para candidatos a prefeito e R$ 10 mil para vereador.
“Teremos que buscar alternativas, como intensificar ações na internet e realizar eventos para a captação de recursos com apoiadores”, diz o atual vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros (PSD).
O tempo para as campanhas foi reduzido de 90 para 45 dias, tendo início em 16 de agosto. Nesse período, o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV passará a ser distribuído em dois blocos de dez minutos, cada, e outros 70 minutos ao longo do dia – também proporcionais à representação dos partidos na Câmara dos Deputados.
A lei prevê, ainda, a figura do pré-candidato, que pode se posicionar sem que isso seja visto como campanha antecipada, desde que ele não peça votos explicitamente. E o registro das candidaturas foi postergado, passando de 5 de julho para 15 de agosto.